Abduçarama.

 Venha conhecer ABDUÇARAMA DO SUL ! 


Em abril de 1970 na cidade Estrela do Sul no interior do Rio Grande do Sul um grupo de mulheres em sua maioria estudantes fizeram uma passeata reivindicando direitos iguais entre homens e mulheres e o fim da escalada autoritária no país, a marcha sacudiu a pequena cidade e contou com a adesão em massa de toda a população que passou a  seguir junto com as mulheres até a prefeitura, imediatamente a força policial e a polícia do exército do batalhão rio grandense se deslocaram até a região e reprimiram duramente o movimento. Prisões e processos foram movidos contra aquelas que participaram da primeira marcha feminista de Estrela do Sul. 

O grupo principal que organizou a marcha liderado por cinco garotas universitárias: Sahra, Luciana, Raquel, Sandra e Cristha foram processadas, e passaram a serem controladas de perto pelas força policiais da cidade, ocorre que em setembro do mesmo ano, uma a uma as garotas desapareceram, restando somente Cristha, em seu depoimento a jovem alegou ter visto um feixe de luz sobre Luciana enquanto caminhavam juntas pela mata fechada do parque Flores do Campo nada mais a declarar ela foi liberada, com medo se isolou no sítio de seus avós e nunca mais comentou nada a respeito. 

O tenente na época que comandou as investigações sobre o sumiço das garotas, Ernesto Lemos deu por encerrado o assunto, jornais da época espalharam a notícia das abduções das cinco garotas, onde somente uma de nome Cristha havia sido poupada pelos extraterrestres, com os boatos diversas pessoas começaram a dizer que viam objetos voadores próximos a região e que extraterrestres visitaram a cidade em busca de contato.

O governo então vendo que o sumiço das garotas havia tomado grandes proporções viram na oportunidade o momento propício para abafar o movimento contra a revolução na cidade e movimentar a economia regional, e desde então Estrela do Sul, ganhou o nome de Abduçarama, hoje em 2024 o centro de ufologia e estudos sobre extraterrestres, na entrada da cidade um monumento em referência as cinco garotas foi construído, cinco estátuas sendo içadas com aço rumo há um monumento que se assemelha a um disco voador com o nome da cidade a frente dão as boas vindas para quem chega. 

E você acredita nas abduções de abduçarama? Eu sou Elisa Tenório repórter do Jornal Brasil notícias, diretamente do Rio Grande do Sul para todo o Brasil, boa noite. 

Arthur desliga a tv após a reportagem sobre Abduçarama, no Rio Grande do Sul, como morador de São Paulo capital, pouco acreditava naquela situação sobre extraterrestres mas o jornal deu uma aliviada do stress pós entrevista de emprego, desempregado, há seis meses, olhava a televisão agora desligada e pensava o que iria fazer para sustentar seus dois filhos e pagar as contas do mês de maio de 2024. 

Ava, filha de Arthur estava em seu quarto, a garota morava com o pai e seu irmão o pequeno Lionel, as rotinas eram sempre as mesmas acordar de manhã ir para a escola de ensino médio e, de tarde o enfadonho curso de inglês, agora de noite após ficar sem entender como seu irmão de seis anos gostava de ver tantos desenhos em japonês, e dominava o idioma, melhor que ela que faz inglês e não conseguia sair do básico dois, a menina ia para o seu quarto, ouvir  The Smiths até cansar os ouvidos em sua playlist de aplicativo de música, sobre a janela do vigésimo andar ela contemplava o som nas alturas com a vista privilegiada da noite paulistana sobre os arranha céus.

Com 14 anos, e em pleno 2024 ouvir The Smiths? já era notório que Ava era diferente das meninas de sua idade, após a morte de sua mãe há quatro anos, vítima da pandemia de 2020, ela se isolou muito das atividades normais e típicas de sua idade, seu pai havia afundado no trabalho para esquecer o que estava acontecendo, até ser demitido, sozinha se trancava em seu mundo até que passou a ter sonhos enquanto estava acordada, noite após noite eram sempre os mesmos sonhos: vozes intercaladas, um ou outro grito, um bater de portas de metal, uma pessoa com voz masculina que gritava:

-Confessa sua cadela ordinária!

-Devolve para a cela Pimentel! Essa daí já deu o que tinha que dar.

A garota, no pesadelo, gritava de volta:

-Socorro! Me ajuda!

Outras vozes ao fundo se misturavam:

-Eu não sei quem são essas pessoas.

-Nós não íamos lá para isso.

Sempre que escutava as vozes Ava aumentava o som da playlist até que pegava no sono novamente. 

A rotina dela seria alterada quando o seu pai chega contando uma novidade que lhe traria uma chance de serem felizes novamente:

-Ava,  Lionel!!

- Eu tenho uma notícia boa e ruim para vocês, sendo assim, qual vocês preferem primeiro? 

Lionel responde:

-A ruim porque é como comer brócolis e depois a boa , como se fosse a sobremesa de chocolate!

Ava diz, com o mau humor típico:

-Tanto faz as notícias serem suas mesmo. 

A garota volta a colocar seus cabelos sobre o rosto por cima do smartphone.

Arthur então conta as notícias: a ruim e a boa:

-Bom, como vocês se recordam eu fui demitido.

Ava com deboche olha para o pai e diz:

-Parabéns. 

Lionel olha para a irmã e diz: 

-Cala a boca, Ava, agora vem a sobremesa de notícia.

O pai olha para as crianças com ternura, senta na cadeira da mesa da cozinha e finalmente conta a boa nova:

-Eu me movi rapidamente com a ajuda do meu network e, consegui uma entrevista de emprego via online, fiz tudo essa semana, em uma cafeteria do shopping que era para onde eu ia para vocês não me verem em casa…

-Fala logo pai! ( fala,  Ava em tom irritadiço). 

Arthur: 

-Bom eu fui aprovado, começamos semana que vem na cidade de Abduçarama do Sul. 

Totalmente insatisfeita com o nome da cidade Ava diz:

-Que ótimo, interior, gente velha, quermesse e meio do mato.

Lionel responde a irmã:

-Ava, você não entende essas cidades têm ladeira, eu vi no instagram, da para descer com rolimão de ladeira, eu amei pai.

O garotinho abraça o pai com muito carinho, enquanto Ava reclama:

-Como você sabe se lá tem isso, burrinho.

-Nunca esteve lá.

-Eu já disse que eu vi em rede social, e tem no google também, bundona.

-Hey que isso, vocês dois ( Repreende o pai das crianças).

Ava pesquisa no notebook e descobre que a cidade de Abduçarama ficou famosa pela abdução de cinco garotas em 1970, apenas uma permaneceu na cidade as demais foram levadas por discos voadores, o misterioso caso é estudado até hoje, todas faziam parte do campus universitário da então cidade de Estrela do Sul. 

As garotas faziam diversos cursos, uma cursava música e deixou um amplo repertório de letras e composições de sua própria autoria em seu nome, era Sarah Costa, e tinha vinte anos. Os desaparecimentos aconteceram em setembro de 1970, antes as moças lideraram um movimento feminista na cidade que culminou com a grande marcha em Estrela do Sul, os dados com as abduções foram subnotificados e encontram-se disponiveis no acervo online do Arquivo Nacional brasileiro. 

A noite posterior com as novidades, mesmo com playlist nas alturas, não deixavam Ava dormir em paz, as vozes elas voltaram com mais força e dessa vez em um bater de grades sem fim, que geraria agonia em qualquer um, era assustador, muito cansada e exausta a menina cai em um pesado sono e dá de cara com o subterrâneo de uma casa, era escuro e tinha grades por todos os lados, ao se aproximar pelo corredor de uma delas seguindo o rastro de um feixe de luz viu um homem se aproximar e encostar em seu ombro dizendo:

-Ava, acorde.

Era seu pai, ela tinha enfim acordado de um pesadelo. Ao perceber que a filha tinha acordado em susto o pai  perguntou:

-Filha voltou a ter pesadelo? E as vozes ? Elas se foram ou não? 

Muito impactada mas não querendo preocupar seu pai Ava responde:

-Não pai, eu estou muito bem, que horas são?

-São 10:00 horas de sábado, nós temos que preparar as malas e a viagem será de carro.

-Que legal pai, mais de 14 horas de viagem no fim do mundo, poxa não tinha como ir de avião? Pergunta a adolescente para lá de mal humorada.

Com toda a compreensão, Artur explica para a garota:

-Ava eu tenho o suficiente para a gasolina, filha vai ser legal nós vamos pegar a estrada. 

- Se apronte, seu irmão já fez as malinhas dele, acredita?. Ava incomodada com o irmão retruca com deboche:

-Super acredito, aquele ali é muito afoito.

Arthur olha para a filha e diz:

-Ele é igualzinho a sua mãe.

Nesse instante Ava, olha para o pai com os olhos cheios de água: 

-Sim, mamãe essa hora já teria feito com que nós todos estivéssemos no carro comendo sanduíche de queijo coalho com melado de rapadura, com aquele sotaque pernambucano que ela não perdia por nada.

O pai olha para a menina, enxugou a lágrima escorrida do rosto dela e diz:

-Ela amava esse sanduíche doce, dizia que o pai dela, seu avô, sempre preparava para matar a saudade do nordeste quando vieram para São Paulo, lá no início dos anos noventa.

Ava, abraça o pai e fala olhando para ele: 

-Amo você papai.

Arthur :

-Também te amo filha, se arruma. 

Nada derretia mais Ava do que as lembranças que carregava consigo sobre a sua mãe, era o conforto a sensação das lembranças, o que mantinha a garota feliz e confiante no futuro, a certeza de que ela estaria ali, de certa forma sempre presente.  

Com os três no carro seguindo em viagem rumo a cidade de abduçarama o som do carro é ligado pelo pai das crianças, a música que toca: 


All the leaves are brown

And the sky is grey

I've been for a walk

On a winter's day

I'd be safe and warm

If I was in L.A

California Dreamin'

On such a winter's day

Stopped into a church

I passed along the way

Well, I got down on my knees

And I pretend to pray

You know the preacher likes the cold

He knows I'm gonna stay

California Dreamin'

On such a winter's day

All the leaves are brown

And the sky is grey

I've been for a walk

On a winter's day

If I didn't tell her

I could leave today

California Dreamin'

On such a winter's day


 ( California Dream. The Mamas and The Papas). 

Sahra ligava o som do carro em janeiro de 1970, na rádio a música que tocava era California Dream, ela tinha acabado de obter a carteira de motorista, junto dela estavam Cristha, Raquel, Sandra e Luciana, o som no carro modelo Charger vermelho, estava nas alturas o carro não tinha teto, era conversível, ali todas estavam ouvindo alucinadamente a música, emboladas com os diversos sonhos que elas queriam obter. 

Sahra queria viajar mundo afora com seu carro, tinha verdadeira paixão pelas culturas maya, incas e asteca, tinha vinte e três anos era a mais velha do grupo e não se importava com o tempo, adorava ir em discotecas clandestinas da cidade, muito conservadora Estrela do Sul proibia os chamados bailes após às 20:00 horas da noite, restava aos jovens uma espécie de felicidade clandestina da qual a jovem era assídua frequentadora. 

Cristha era sua melhor amiga, ela tinha sonhos maiores, havia nascido Casemiro de Abreu Farroupilha Junior, mas nunca aceitou a imposição, amava e colecionava fotos da atriz Rogéria, se sentia muito bem como era uma jovem mulher de 21 anos que queria a liberdade de ser quem realmente sua alma lhe dizia ser, ao lado das meninas ela era protegida e retribuia a proteção se tornando a que sempre promovia a união do grupo de estudantes, fazia veterinária e não aceitava outra opção, vivia com seu avós que não conseguiam lhe impor as tais obrigações. No carro na parte da frente e ao lado de Sarah, estava Raquel, a mais espevitada, sonhava em ser atriz  e tentava sem sucesso cantar a versão em inglês da música que o grupo tanto amava. 

Luciana era a moça mais bonita do grupo tinha os cabelos ruivos com franja, que escondia os olhos verdes, amava maquiagem, fazia biologia e era feminista, tinha o sonho de entrar para a política, ela quem tinha feito a cabeça das outras amigas para encabeçar a primeira passeata por igualdade em abduçarama, tinha 19 anos, era a mais nova do grupo. 

Sandra amava música, sempre com o seu violão liderava tudo, tinha os cabelos crespos, a pele negra perfeita, era muito ligada ao movimento Hippie, fazia mapa astral, tarot mas sua maior qualidade eram as composições que fazia, sua músicas se transformaram em um acervo guardado no museu da prefeitura da cidade e inspirou pessoas jovens, artistas famosos iam à cidade para fazer a releitura, foi a primeira a ser abduzida, de noite enquanto voltava da roda de viola, no local quando a polícia chegou de manhã havia seu inseparável violão e seu caderno com todas as suas letras, tinha a mesma idade de Cristha 21 anos, mas seria Cristha a única a escapar das abduções de Abduçarama, sobre ela recaia todos os segredos e o porquê de seu interrogatório ter sido em local incerto e desconhecido, e ter durado dois dias seguidos, tudo isso seria um segredo que levaria consigo por décadas, até os seus 70 anos. 

Ali naquele carro longe de tudo que o destino lhes reservava havia apenas a música para embalar os seus sonhos:

-Uhhh...Liberdade !!

-Luciana, o que você vai fazer? ( pergunta Cristha).

Luciana tira a blusa e enquanto Sarah dirige e grita de dentro do carro: Liberdade!. 

-Sandra olha e imita a amiga, ambas estavam felizes. 

Pela estrada ao redor das propriedades rurais que cercavam a cidade era deserto e ali poderiam gritar sem medo o que queriam em tempos tão difíceis, mas ali e de testemunha apenas o azul acinzentado. 

-ESTAMOS CHEGANDO!! Grita Arthur para os meninos, para dar ânimo na puxada viagem que haviam feito de São Paulo Capital para Abduçarama do Sul. 

- Olha que legal as estutuas ( fala erradamente ..)

-São estatuas seu burrinho.

-pai olha a AVA, me xiuugando.

-Meninos por favor, nós finalmente chegamos na cidade, olhem a vista é o sul a pontinha do nosso país.

Ava olha fixamente para o monumento da entrada da cidade, e ao se deparar com ele teve um insight do pesadelo que teve no sábado passado com um sotão, um corredor escuro e o susto com um homem que se aproximava dela em meio às sombras, com os olhos arregalados ela ficou em silêncio enquanto o carro seguia para dentro de abduçarama, ela não conseguia entender o que o sótão, frio, seco, escuro de uma casa tinham haver com o conto da cidade, já que as moças foram abduzidas em locais abertos, como parques, estacionamento público e em uma delas Luciana, enquanto estendia roupas no varal de casa. 

-Oi, meu nome é Carlos Pimentel de Andrada Correia Neto, sou o guia do museu de abduçarama e co-fundador da ONG: A Verdade está no Cosmos! Entidade que pretende demonstrar que existe vida extraterrestre e que a ONU reconheça que o sumiço das cinco garotas foi obra de ETs com seus discos voadores. 

-Vocês são os meus novos vizinhos? É um prazer conhecê-los.

Carlos UFO, era neto do Coronel do Exército Pimentel que comandou as investigações sobre o desaparecimento das garotas nos anos 70, seu pai havia morrido muito cedo de câncer no pulmão, sua mãe era alcoólatra e ele hoje com 39 anos encabeçou o movimento de UFOLOGIA na cidade, era assunto sério para a população a existência dos extraterrestres, todos ali afirmavam que viam discos voadores, que haviam sido abduzidos, congressos e seminários sobre o assunto ocorriam sempre na região, e movimentavam a economia local durante o ano todo. 

O rapaz ainda cuidava do Coronel Pimentel, ele tinha 90 anos, era figura respeitadíssima na cidade por ter controlado os subversivos da cidade, e comandado a revolução em Estrela do Sul, atual abduçarama, vivia em cima de uma cama/maca, e pouco comentava sobre o assunto, se orgulhava de seu passado contra o que ele chamava de comunistas, e dizia abertamente que o que havia ocorrido com as meninas tinha sido obra divina como castigo pela insurreição. 

Ava, é avisada que na semana seguinte iria para a escola da cidade, lecionar o segundo semestre, a escola se chamava : Ets, a vida inteligente no espaço e em abduçarama. 

Lipe é um garoto autista que ama andar de bicicleta pelas ruas da vizinhança de Ava, ele se comunica com alguma dificuldade mas é muito esperto, sempre que seu pai vai atrás dele ele anda em toda a velocidade para sentir a fuga e a liberdade que começava aflorar nos seus 14 anos, ele fazia sempre o mesmo percurso, Ava está andando na calçada após ter ido ao museu da cidade e comentar para si mesma: Nada nessa história faz sentido, que coisa maluca, quando o menino a atropela e ela diz:

-Hey, você não olha para onde anda? 

-Desculpa tô indo atrás de um mistério.

Que mistério? 

-Vem comigo que eu te mostro.

O Pai de Lipe sai de casa e o chama :

 -Muleque tu não terminou o dever de casa.

-BAH, deixa eu ir, amanhã se quiser saber sobre o mistério te levo até ele, é o meu tesouro. 

Ava , fica confusa com o que Lipe lhe diz e sem entender nada volta a andar e retruca:

-Cidade de malucos, onde já se viu quase me matou com essa bicicleta e ainda vem me falar de mistério, tesouro, nem me conhece. 


-Temos que nos mobilizar não está certo, minha vizinha apanha do marido todos os dias e não tem com quem contar.( Diz Sarah). 

-Sim, são muitos os casos, aqui mesmo no campus e tudo mais.

-Eles dizem sempre a mesma coisa, que as mulheres foram as erradas que elas teriam provocado, um absurdo atrás do outro nessa cidade.

- No júri alegam: crimes da honra! absurdo. 

-Então vamos nos organizar em um protesto.

O momento não é muito propício! ( exclama outra estudante), quando Cristha fala: 

- E quando vai ser! A Revolução, como chamam, não vai terminar assim, nós precisamos nos mobilizar por direitos e por democracia nesta cidade. Sarah pede em agosto de 1970 que todas que estivessem de acordo com a mobilização da primavera gaúcha  que levantassem as mãos, as estudantes em sua maioria levantaram as mãos a favor da marcha que seria realizada na cidade em favor dos direitos das mulheres. 


Era junho de 2024 e Ava estava exausta na cidade de Abduçarama, poucas coisas a deixava feliz ali, mas todos os dias seguia com Lipe para um casarão abandonado, juntamente, com Valentina e Enzo, os gêmeos que eram seus colegas da escola, com 14 anos, para investigar um suposto ouro perdido nesta casa. 

Naquele dia enquanto Lipe, Valentina e Enzo escavavam o jardim do casarão, certos, que haveria um ouro deixado de um antepassado da Farroupilha, Ava entra no casarão e se depara com um ambiente assustador, escuro, e ao fundo no final do corredor um pequeno feixe de luz, proveniente de um furo no telhado do casarão, lhe remetia ao pesadelo que teve em São Paulo, determinada diante do dejavu, ela se enche com uma força sobrenatural própria e decide seguir a trilha deixada pelo feixe, passo por passo, o barulho e as gargalhadas dos seus amigos, escavando com a mão na procura pelo tesouro da farroupilha ia ficando baixinho, e quanto mais se aproximava do fino feixe de luz, um silêncio seco tomava conta do ambiente, no casarão construído em 1830 e abandonado desde os anos sessenta do século XX. 

Ao se aproximar do final do corredor, um vulto passa por Ava, mas tratava-se de um ratinho assustado que passava correndo com medo da menina. Após, o susto recíproco de Ava e o ratinho, uma porta entre aberta dava fim ao feixe de luz, a garota, tomada por uma curiosidade colossal, afinal o local era idêntico ao seu pesadelo, decide pegar um ar curto, e põem a mão sobre a porta. 

A Senhora Cristha servia um chá quente para a sua sobrinha, a Hortênsia, uma jovem professora da cidade, curiosa sobre o passado nunca revelado por inteiro de sua tia, no meio do lanche Cristha pergunta: 

-com açúcar? 

Hortência responde, olhando para a xícara: 

-Não, eu comecei uma dieta nova, mas um pedacinho desta cuca de doce de leite eu aceito!

Cristha ri, da dieta da sobrinha e fala: 

-Sei, vi que tu até no chimarrão anda se controlando, veja bem no nosso mate sagrado. 

Hortência responde: 

- Bah, tia, agora eu preciso me controlar, exagerei nas festas de fim de ano, você viu?

- O que? ( Exclama Cristha) 

- Que chegou, bom na verdade, desde o início de maio, um viúvo na cidade, com um garotinho lindo que é seu filho e um garota esquisita, que também é sua filha na cidade? 

- Minha filha, eu mal gosto de sair para fazer as compras do mês, moro neste lugar afastado para não saber nada daquela gente e você me vem falar de viúvo? 

- Ah , tia, só queria te distrair um pouco. 

- Eu me distraio, lendo, vendo receitas de bolo no tik tok, a tem uma moça que fez uma receita de CUCA com Pistache! Nossa, não servi na páscoa porque você me prometeu achar o pistache! 

  • É que eu não consegui achar aqui no sul tia. 

  • Bom, deve ser porque anda interessada demais na vida do tal viúvo!

Na base da risada as duas encerram a conversa.


Após escavaram e encontrarem apenas raízes secas e contorcidas ao fundo, Enzo, Valentina e Lipe se dão conta que Ava não estava no jardim do casarão, assustados os amigos se entreolham e Enzo fala: 

-Será que os ETs voltaram e levaram a Ava? 

Valentina ri e informa olhando para a porta do imovel: 

-Dã, bah, mas tu é besta hein irmão, olha a porta do casarão está aberta, ela deve ter entrado. 

Lipe então diz:

 - Esperta, como não pensei nisso antes, lógico o tesouro está dentro desta casa velha. 

Valentina e Lipe seguem para dentro da casa abandonada, munidos com as luzes de seus celulares, com medo de ficar do lado de fora, Enzo segue a irmã e o amigo, para encontrar Ava e o tesouro. 

Era setembro de 1970, pela cidade eram colados os cartazes para a passeata de primavera que pedia: o fim da violência contra as mulheres de Estrela do Sul, a volta da democracia, entre outras reivendicações, os anos setenta tinha a rebeldia e a fúria necessária para modificar as estruturas vigentes, e como a máxima ousadia as estudantes, da cidade, iam chamando a antenção da população com a entrega de folhetos, palestras ao ar livre na praça da cidade, interveções na igreja que gerava a fúria do paroco, certa vez as meninas adentraram na igreja e perguntaram: 

-José jamais bateria em Maria! 

-José a amava, vamos lutar para que as famílias de Estrela do Sul sejam como José e Maria, que se amavam, se respeitavam e criavam Jesus. 

O Padre se exalta e aos gritos, na missa, ordena: 

  • Expulsem estas subversivas da casa de Deus!

As mulheres discretamente pegavam os folhetos que as estudantes lançavam no ar, antes de saírem correndo da igreja, e escondiam em suas bolsas, mais tarde estariam todas lá, no protesto, por mais famílias sem violência. 

Ava após abrir e adentrar a porta, foi descendo lentamente, por uma escada, que por fim dava acesso ao sótão do casarão, ela então pensava, respirando agora com rapidez e com olhos arregalados sobre a franja, como se nos livros de História da cidade não constavam sótão no sobrado velho, apenas que era um casarão simples que abrigou os heróis da Farroupilha por quinze dias. 

Valentina e Lipe, e Enzo logo atrás, seguiram o mesmo feixe de luz que Ava, mas agora com o avançar das horas, por volta das 18:30 e início da noite, contavam com a ajuda dos celulares, pois o feixe se encontrava cada vez mais fraco e opaco. 

Ava segue agora, no sótão, com medo de gastar a bateria do celular, agora, em cinco por centro, decide caminhar na escuridão. Os amigos dela descem as escadas rumo ao sótão, eis que, Ava já distante da escada resolve acender o celular para retornar, o local que ela estava era tão escuro que ela não via mais nada, sentia um cheiro de mofo com ferro, muito forte, um pingo de uma gota cai sobre a sua cabeça, ela pega o celular para com a tela iluminar a retornar. 

Lipe, Valentina e Enzo agora, seguem na escuridão do sótão, extenso, e quando se aproximam do breu total escutam o grito de AVA. Desesperados acendem os celulares e decidem ir atrás da amiga, Enzo titubeia, mas com medo de ficar sozinho acompanha Lipe e sua irmã, Valentina, eles estão decididos a encontrar AVA. 

Os convidados iam chegando no mini auditório da cidade, naquele dia, Carlos Pimentel o UFÓLOGO mais importante de Abduçarama ia apresentar sua teoria sobre os extraterrestres, um livro seu feito com base nos relatos da época sobre o sumiço das garotas em 1970, na cidade, além de outros desaparecimentos da época que seriam fruto da atração que os ets tinham pela cidade, muitos turistas e jovens gostavam da estória, o clima era legal, e kits eram distribuídos, após será servido um animado coquetel com churrasco gaúcho, cervejas, iguarias para os veganos, e um DJ da cidade iria tocar para todos. Uma noite bem agradável e movimentada para Abduçarama. 

Hortência aperta a campainha da casa de Arthur, ele abre com ar de preocupação e fala ao abrir a porta: 

  • Onde você estava mocinha? 

E o brilho some do olhar dele quando vê que não era a filha, neste momento Hortência diz: 

-Bom eu já não sou mocinha há tempos, mas faço bons tratamentos estéticos. 

Arthur diz: - Desculpe, mas  a minha filha sumiu!

Hortência fala: - Acho que ela deve ter ido na palestra de ufologia da cidade, é um evento que atrai gente do Brasil e do mundo para cá! 

Arthur fala: - Mas sem me avisar? ela não faria isso? 

Hortência: - Bom, ela é uma adolescente, e na verdade eu vim aqui para lhe convidar. 

Arthur: - Sim, quem sabe ela está lá, eu vou levar o meu garotinho, e procurar ela lá! 

Lionel ouve toda a conversa enquanto veste a camisa de Etezinhos da cidade de abduçarama e diz: 

-Ok, vamos para lá

Hortência fala: Ok, então vamos!

Ao fechar a porta, juntamente com Hortência e Lionel, os pais de Lipe, Enzo e Valentina aparecem e perguntam se AVA está em casa com os meninos, Arthur fala com eles e informa que não. Hortência informa que talvez todos estivessem na palestra de UFOLOGIA do Carlos Pimentel, os pais concordam que tudo não passa de uma travessura de adolescentes e partem para  lá na esperança de encontrarem todos.  

A Passeata movimenta a cidade, mulheres, crianças, homens, todos seguem juntamente, com as estudantes até a prefeitura reivindicar direitos, democracia, melhores condições de vida para a cidade, o fim da violência contra as mulheres, das janelas dos casarões e de pequenos edificios da cidade, papel picado é jogado das janelas, em tom branco e rosa, e Sarah, Cristha, Raquel, Sandra e Luciana, seguem na frente com auto falantes, movimentando a passeata. As ruas vão ganhando vida, a multidão segue e chega até a prefeitura da cidade quando, de repente, os policiais e a polícia do exército lança a cavalaria e o cacetete de borracha na população, naquela noite, as meninas, identificadas como líderes do movimento seriam fixadas e liberadas, uma a uma depois seria abduzida por alienígenas, uma triste coincidência que consta até hoje nos livros de História da cidade, fazendo de Abduçarama centro de estudos de Ufologia no mundo, desta passeata em setembro de 1970 restou a correria, o esquecimento, registros que hoje estão no acervo online do país, e o absoluto silêncio. 

Guiados pelas luzes dos celulares, Valentina, Enzo e Lipe chegam ao local onde está Ava, ela esta paralisada, no escuro, o celular descarregado no chão, eis que eles olham para além do corpo parado de respiração ofegante da menina e se deparam com uma pilha de ossos amontoados em duas celas. 


-O que eu tenho aqui, neste livro, olhando na frente, da estátua dos nossos amigos ETS, e das jovens que foram com eles, exceto Cristha, que hoje se recusa a nos dar mais informações sobre os alienígenas, e ajudar nos estudos da nossa cidade! é um trabalho árduo, do acervo digital online, que colheu informações sobre a aparição dos discos voadores em nossa cidade! 


A Multidão olha a explanação de Carlos com admiração, ansiosos para comprarem o livro intitulado: Abduçarama a Verdadeira História de Nossos Amigos ETS S2. E Carlos, conclui seu longo discurso: 


  • Logo, com este livro senhores pretendo forçar o governo brasileiro a reconhecer a cidade  de Abduçarama como centro de referência alienígena, um Estado reconheceria a força de uma força alienígena! 


Todos entusiasmados com os estudos de ufologia de Carlos o aplaudem, os pais de Ava, Enzo, Lipe e Valentina procuram pelos filhos, em meio aos aplausos da multidão que logo se dispersa e se divide entre o coquetel com bebidas, um autêntico e cheiroso churrasco gaúcho e a lojinha recém inaugurada dos livro com a pesquisa de Casemiro, baseada nos relato extraídos da população local e principalmente de Cristha, no final de 1970 e colhidos pela força do exército naquela época. 

Arthur desesperado juntamente com os outros pais dos adolescentes sobe ao púlpito da praça, pega o microfone e informa: 

  • Pessoal nossas crianças desapareceram, desde o entardecer que os celulares dos mesmos encontram-se desligados, acreditamos que eles estivessem aqui, mas não estão, por favor nos ajudem!!


A mãe de Valentina e Enzo desmaia. A Multidão olha para o palco mais uma vez e pessoas gritam: 

-Foram os Alienigenas!!

-Os ETS!

-Eles devem estar na cidade!

-Vamos caçá-los! 

Um tumulto toma conta, a delegada dacidade Tonya Oliveira, se aproxima dos pais dos adolescentes e informa, olhando nos olhos das mães dos adolescentes: 

  • Seja o que  ou quem foi nós vamos achá-los são e salvos! 

  • Eu Prometo! 

A Delegada manda mensagem para todo o efetivo da cidade e parte com as  viaturas para as mediações, populares acreditando se tratarem dos alienígenas partem rumo a dentro da cidade em uma caçada para achar os adolescentes e o que eles acreditavam serem extraterrestres.

No casarão, os adolescentes após o susto inicial, começam a juntar o quebra cabeças da história do local com a  História dos desaparecimentos e Ava chorando diz: 

  • Igual nas minhas visões, elas gritavam, elas vieram até mim, elas queriam me dizer que era tudo mentira!!

  • Elas não foram abduzidas!

  • Elas foram mortas aqui! 

  • São elas! 

Valentina abraça Ava, Lipe, mexe nas ossadas e reconhece os pedaços dos fragmentos de tecidos em meio aos ossos, como os descritos nos livros escolares sobre o desaparecimento das garotas, Enzo olha para Ava com ternura e diz: 

- Nós acreditamos em você! a verdade vai vir à tona!

Enzo então olha para o grupo e fala: - Meu avô falava quando eu era pequeno que a verdade é como o Sol, ninguém consegue esconder ela quando a luz solar ilumina tudo ao redor sobre a escuridão. Os quatro se abraçam e decidem que vão sair dali e informar a todos sobre a ossada das pessoas até então abduzidas, na verdade foram mortas, restava saber por quem. 

Hortência fica com Lionel enquanto Arthur e os pais dos outros jovens seguiam nas viaturas em busca dos mesmos. Lionel chorava muito abraçado com o estezinho símbolo da cidade e a moça então diz: 

  • Você quer comer uns biscoitos com chá bem quentinho?

  • Logo, logo suas irmãs e seus amiguinhos vão estar aqui, isso é travessura deles.

  • Você promete! ( em meio às lágrimas diz Lionel). 

  • Sim! Olha vou te levar na casa com os melhores biscoitinhos que existem. 


Cristha abre a porta e vê Hortência com Lionel chorando muito e pergunta a sobrinha o que estava acontecendo, a ela informa: 

  • Esse é o filho do Arthur.

  • Como assim? Já estão assim? 

  • Tia, por favor deixa a gente entrar! explico tudo. 

  • Ok, vou preparar umas xicaras de chá com biscoitos e cucas  doces!

Lionel esboça um leve sorriso.  Enquanto o menino lancha e da comida imaginária para o etezinho, Christha olha para a sobrinha e a questiona: 

  • tudo bem, agora você pode me contar o que está acontecendo?

  • Você não leu as minhas mensagens por whatsapp ? 

  • Hortência você sabe que eu tenho pavor dessas coisas tecnológicas, nem de TV eu tenho gostado ultimamente. 

  • Tia, a filha do Arthur e os filhos do Marciel e do casal Siqueira desapareceram!

  • As pessoas abandonaram o evento e estão caçando as crianças e os ETS mata a dentro, pela cidade, a polícia, está nas redes sociais, saiu até na CNN internacional. 

Lionel pede mais biscoito, e Cristha fala: 

  • Mais biscoitinhos meu amor, segurando o desespero na voz. Então o garotinho fala: 

Tia eles foram atrás de um tesouro! 

Como assim? pergunta Hortência e Crishta.

Porque fala isso só agora, guri! fala alto Hortência, e com toda a calma Cristha pergunta: 

  • Como assim? Explica para a sua tia velha aqui que tesouro é esse?

  • Olha, eu ia, mas a Ava não deixou, o tesouro falou na pilha! 

  • Falou na pilha ? ( Diz Hortência). 

  • Farroupilha né! ( Pergunta Cristha) 

  • Sim, esse aí, fica um casalão lá num sei onde ( Diz Lionel com  os olhos arregalados). 

  • Hortência fala: Vamos pra lá, claro o casarão antigo da cidade. 

E Cristha atônita cai sentada no sofá e fala: Eles acharam ! foi lá! eu não lembrava. 

Hortência, não dá importância para o que sua tia fala sussurrando para dentro e imediatamente liga para Artur que está na viatura com a  delegada e os demais pais. 

  • Arthur? é Hortência, olha o Lionel disse que as crianças estavam atrás de um tesouro no casarão 

  • Como assim? Um Casarão? 

A delegada e os pais na mesma hora  associam: 

-sim,

-Claro é porque você não conhece a História do local, é lá que fica um casarão antigo, mas ninguém vai lá desde os anos sessenta do século passado. 

As viaturas partem para o casarão,  ao chegarem  todos descem do carro e os adolescentes saem correndo gritando de dentro do local: 

  • Encontramos elas!

  • Elas não desapareceram!

  • Elas estão lá!

 Hortência olha para Cristha e percebe que a tia está pálida, e pega em sua mão, que está fria e diz: 

  • Tia, o que foi? Eles estão bem, você vai ver? 

Cristha fala: - Eu lembrei ! foi lá que eu fui dilacerada! sai sem lembrar nem quem eu era!

Embaixo! 

Embaixo!

Hortência olha para a sua tia e vê ela querendo desmaiar e liga para o socorro da cidade. A ambulância chega, sem ter com quem deixar Lionel, a moça resolve levar a criança com ela para o atendimento de emergência de Cristha. 

Bom olhem essa estória, não se fala de outra, coisa, parece que ossadas encontradas no casarão da cidade de abduçarama seriam das garotas abduzidas por alienígenas nos anos 70, logo o caso famoso e estudado por ufólogos do mundo todo jamais aconteceu, são as informações que vem do sul, acompanhe a reportagem com a nossa repórter especial pelo fantástico, nesta História que vem despertando a curiosidade do Brasil e do mundo. Um grupo de adolescentes descobriram um porão em um antigo casarão onde as garotas foram levadas para interrogatórios locais da época, tachadas de subversivas as meninas foram na realidade torturadas e única sobrevivente internada em um hospital da cidade após se recordar das torturas, confirmou a  estória, com exclusividade, a autoridade policial local reabriu o caso e pesquisadores confiram que tudo foi fruto dos tempos sombrios da Ditadura Militar no país, assim, após, movimentarem a cidade com manifestações as garotas foram submetidas aos horrores da ditadura em uma espécie de dops local em Abduçarama. Sarah, Sandra, Cristha, Luciana e Raquel, portanto, foram vítimas do cruel regime. Essa foi uma reportagem da G24 Brasil, sua plataforma digital número 01 de notícias. 

Casemiro, arremessa o celular longe após ver o vídeo contendo a extensa reportagem sobre a verdadeira História da Cidade, ele olha para o pai e estágio terminal e entende que ele era um dos soldados que participou do sequestro e tortura das meninas, mesmo anistiado, manteve o elo com a construção de um passado e de uma memória inexistente, ao mesmo tempo a compaixão pelo homem que lhe criara lhe impedia de externar qualquer sentimento, a anistia no final dos anos setenta havia colocado uma pá de cal nas punições, agora, tudo fazia sentido, a dor da única sobrevivente. Ao longe, o ufólogo acompanhava o cortejo da cidade para enterrar as meninas, pesquisas forenses realizadas em setembro de 2024 confirmaram que se tratava de Sarah, Sandra, Luciana e Raquel, no cortejo fúnebre todos estavam vestido de preto com rosas brancas nas mãos, pessoas do sul, do país todo e do mundo chegavam para acompanhar despedida das meninas, muitos gritavam palavras por liberdade, democracia e : - DITADURA NUNCA MAIS! 

Carlos recebe a notícia do hospital que seu avô havia partido, ele chora, e pensa, que embora não pudesse fazer justiça alguma poderia se dedicar e contar a verdadeira história da cidade, munido com uma britadeira, entra em sua caminhonete e parte para o monumento da símbolo da cidade. 

Após os cortejos as  pessoas voltam pela praça e se deparam com Casemiro e a britadeira vandalizando o monumento de abduçarama, quebrando o disco voador que sustenta as meninas abduzidas em gesso. Todos olham a cena  e começam a vandalizar o monumento, o gesto une a cidade, e todos entendem que destruir aquele monumento era destruir toda a mentira que tinha sido construída pela DITADURA em Estrela do Sul. 

Cristha desce do carro, e se junta no fim daquele símbolo de censura e silenciamentos, emocionados muitos visitantes filmam com os celulares a cena, o monumento é destruído, no local seria erguido estatuetas das meninas como na passeata descrita pela população local, dizendo lemas em favor da Democracia, liberdade e pelo fim da violência contra as mulheres. 

Ava depois destes dias, começou a parar de ouvir vozes, passou a sorrir mais, e logo começou a ter seu primeiro namoro com Lipe, Valentina e Enzo passaram a promover a História de Estrela do Sul pelas redes sociais, divulgando o que aconteceu. Hortência e o pai de  Ava começaram a namorar também, para a alegria de Lionel que adorava a madrasta e de Ava que passou a ter em Hortência a sua melhor amiga, em meio a tantas notícias boas, infelizmente, o estado de saúde de Cristha teve uma piora e ela foi levada novamente para o Hospital em março de 2025. 

A Paciente quer ver a senhorita Ava, ela se encontra? 

No hospital estavam Hortência, Arthur, Ava, Lionel, Lipe, Valentina e Enzo. Ei que Ava informa se tratar dela e segue com o médico e a enfermeira para ver Cristha, ao chegar na maca ela se depara com a Cristha acamada, mas um sorriso iluminado quando a vê, sem mais Cristha diz: 

  • Se aproxime, eu preciso lhe dizer tudo que você significa na minha vida. 

Ava abraça suavemente Cristha, depois olha nos olhos dela e escuta atentamente o que a senhora tem a lhe dizer: 

  • Sabe, durante muito tempo eu tentei me lembrar do local onde todo aquele horror aconteceu, mas eu não recordava, a dor me impedia de dizer, todos os dias eu encontrava, ao longo destes anos, com aqueles que me machucara, e mataram as minhas amigas, e vi um por um partir desta vida impune por tudo que fizeram, mas você, as suas visões e a  sua coragem me trouxeram a vida novamente, e eu recordei. 

  • Não precisa me agradecer, você foi gigante, mudou tudo,o protesto de você deixou sementes que cresceram, essa cidade é cheia de pessoas maravilhosas, elas lutam pela democracia, por justiça, pela memória e pela verdade. 

  • Ava, obrigada, agora, tenho você como um  girassol que traz vida para Estrela do Sul, posso partir em paz, eu e as meninas. 

Cristha olha com ternura, uma última vez para Ava e fecha profundamente os olhos, a menina abraça forte o corpo de Cristha e chora, os médicos chegam, Hortência e Arthur chegam e tiram Ava dali abraçando ela fortemente. 

Era março de 2025 é oficialmente Abduçarama deixava de existir, ao se tornar prefeito da cidade Carlos resgatou o antigo nome da cidade, agora e novamente: Estrela do Sul, e como justiça pelas atrocidades cometidas na ditadura, e que contou com a participação de seu pai passou a se dedicar a verdade na cidade, não abandonou a ufologia, mas definitivamente fez questão de informar que não era o caso de Estrela do Sul. 

Cristha abriu os olhos, onde virá a luz intensa sobre a maca do Hospital, anteriormente, passou a ver a luz de um sol meio perolado, sobre um céu azul acinzentado, com nuvens formando desenhos tridimensionais, um dia inverno bem leve e lindo, de sonhos, olhou para frente e viu um pasto verde, antes que pudesse perceber que estava como nos anos setenta uma voz lhe diz: 

  • Ei magrela, bora, estamos aqui a horas te observando, vem!

Cristha olha para trás eram as meninas no velho carro modelo Charger vermelho, estavam todas ali sorrindo, e olhando para ela entrar, ela entra, senta e percebe que tudo está como no dia anterior ao planejamento da passeata, mas com um ar diferente, eis que Sara olha para ela e diz: 

  • Sabe para onde nós vamos, nessa estrada? 

Cristha  responde toda feliz por estar com elas: 

-Não faço ideia; 

E elas em coro respondem: - Ser livre por toda a eternidade. 

O carro segue por uma estrada perfeita, e segue ao som da música favorita delas: California Dreamin. 


Conto inspirado na música:

The Mamas & the Papas - California Dreamin' (youtube.com)





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